terça-feira, 6 de maio de 2025

*"Será que está chegando minha hora?" (Crônica da Vida)

Sempre busquei ao longo da minha história viver de forma coerente com meus propósitos, ainda que ousados, mas sempre que possível e dentro dos meus limites, aprendi a cuidar de mim de maneira consciente sabendo que um dia poderá vir a minha morte.
Afinal, o sofrimento sempre pairou sobre muitas etapas da minha vida, por mais cuidados que possa ter tido.
Nesses anos todos dediquei muito tempo da minha vida a repensar sobre tudo o que me aconteceu, afinal, desde criança sempre vivi momentos difíceis, até que chegou o dia em que descobri que tinha uma doença grave, incurável e que ameaça a continuidade da minha vida.
E foi assim que minha vida se encheu de sentido quando descobri que tão importante quanto cuidar dos outros, o melhor era cuidar de mim, entretanto, por um bom tempo não dei importância a essa valiosa lição.
Por muito anos, não tinha tempo de almoçar, tempo de dormir, não tinha tempo de cuidar do meu corpo, de rir, de chorar; aliás, não tinha tempo de viver.
Minha dedicação ao trabalho me fazia buscar um reconhecimento social, aliás, uma forma distorcida de se sentir importante e valorizado. Eram tantas obrigações que mal conseguia entender que o mundo não iria parar de girar se eu não o estivesse empurrando.
Até que um dia, três bips no meu pager, num fim de semana, me alertou que eu estava em dificuldades financeiras, de uma hora para outra, tudo aquilo que eu acreditava ser o melhor para mim e aos que estavam a minha volta, desmoronou.
Meus sonhos estavam virando fumaça, e para piorar mal conseguiria colocar o sustento da minha casa, e quando mais eu precisava das pessoas que sempre estiveram a minha volta, veio a parte mais cruel da vida, muitos que antes diziam ser meus "amigos", me deram as costas, me vi perdido num caminho que não tinha escolhido andar.
Foi quando de repente, tive meu primeiro infarto, recebi eletrochoques e algumas massagens cardíacas para voltar a vida, e como nada de ruim pode ficar pior, descubro ser portador de duas doenças degenerativas, entro em parafuso, e logo após mal ter me recuperado, sofro um AVC.
Nesses últimos anos, tive de reconhecer que tudo que eu possui materialmente falando não me serviram nem para meus cuidados paliativos, por outro lado nunca abandonei meu caráter e minha dignidade, mesmo diante das minhas dificuldades, sempre busquei manter meu dom de empatia e comprometimento por todos que se mantiveram ao meu lado.
Assim ampliei minhas experiências, mas agora em busca de um conforto espiritual, mesmo sabendo que logo pode estar chegando meus momentos finais.
Diante dos problemas que a vida me trouxe, em especial por causa dos problemas de saúde, onde quase que todos os dias preciso de morfina para que possa me sedar, tamanha são as dores que sinto, isso me faz viver em constantes momentos de impotência, já que sempre busquei lutar pelas coisas que fazia, e mesmo dentro desses novos limites ainda tento fazer.
Ainda me recordo do dia em que tinha prometido que sempre cuidaria da minha família e de tudo em casa, mas agora tem dias que não sei nem quem eu sou, choro, torrencialmente caem minhas lágrimas, nem a chuva abafa o som do meu choro, não sei por quanto tempo irei sobreviver a tudo isso, talvez quando a morte chegar eu possa encontrar a paz.
Nesse momento a noite se abate sobre mim, sei que logo irá chegar a madrugada, meu sono será agitado, por causa das minhas dores e pela medicação que uso, logo posso dar um grito por causa dos meus pesadelos, revivendo as cenas da minha vida onde muitas vezes eu pedi: “Me ajuda!” E nada! Só vejo costas viradas ante meus olhos estupefatos achando que alguém me estenderia as mãos, não para me julgar ou atirar pedras, mas quem sabe pudesse me socorrer nos meus dias mais difíceis, então acordo. Vou ao banheiro lavar o rosto e, quando me olho no espelho, vejo um homem no auge dos seus 70 anos ainda lutando para sobreviver, mas pra que?.
Penso então; "Meu Deus, estou alucinando ou será que ainda estou sonhando?" Sei lá!?. Penso em talvez ligar para minha alguém, pedir socorro ou quem sabe suplicar: “Não aguento mais! Não quero mais viver assim! Não quero continuar sofrendo, será que já está chegando minha hora de morrer?"
De novo a resposta é solitária as minhas perguntas; "Sei lá!”

®Jorge Bessa Simões

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*Foto Extraída do Google Imagens.
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