Sei que determinada rua que já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que guardo há muitos anos
E que nunca mais vou abrir
Cada vez que me despeço de uma pessoa
Pode ser que ela esteja me vendo pela última vez
Pois a morte, surda, caminha ao meu lado
E não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar acabar o que tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uma bebida?
Ou no poema que deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar realizar meu ultimo sonho?
Ou virá antes de poder abraçar a mulher que está ao meu lado,
Que está em casa me esperando para que a abrace
Antes de partir?
Morte, sei que vou te encontrar vestida de negro cetim
Pois em qualquer lugar tu esperas só por mim
E do teu beijo irei provar o gosto estranho
Que não quero e não desejo,
Vem, mas demore a chegar
Te detesto e amo morte,
Talvez esse seja o segredo desta vida, Morte.
Qual será a forma da minha morte?
Essa é uma das tantas coisas que não escolhi na vida
Sei que existem tantas, um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
Uma anestesia mal aplicada, a vida mal vivida,
a ferida mal curada, a dor envelhecida
O câncer espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio
Oh morte, tu que és tão forte, que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado, que minhas cinzas alimentem a erva
A erva que alimente outro homem como eu
Porque continuarei nos meus filhos, na palavra rude
Que disse para alguém que não gostava
E na bebida que não terminei de beber aquela noite.
E mesmo não te querendo sei que vou te encontrar
Vestida de negro cetim,
Em qualquer lugar tu esperas por mim
Do teu beijo vou provar o gosto estranho que não desejo
Sei que terei de te encontrar, vem,
Mas demore a chegar, te detesto e amo morte,
Talvez seja esse o segredo desta vida.
®Jorge Bessa Simões
(Baseado na canção: "Canto para minha morte." Raul Seixas)
Velhas Memórias Poéticas. © 2013-2023
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*Foto Arquivo Google Imagens.
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"Vou buscando em versos simples descrever meus sonhos que foram compondo minha vida e que tanto me deu prazer, já que os vivi em todos os sentidos. Tudo foi como uma canção que embalou minha vida onde vivi a carência necessitada, porém tudo me foi saciado, e é nos versos simples da vida que agora preservo as minhas velhas memórias poetizadas." (Jorge Bessa Simões) Velhas Memórias Poéticas. Copyright © 2013-24 ®Direitos Autorais Reservados.Lei 9.610/98
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