domingo, 26 de novembro de 2023

*"O outro lado da história" (Crônica)

Um menino tinha uma cicatriz no rosto, e as pessoas da escola não falavam com ele e nem sentavam ao seu lado, na realidade quando seus colegas de escola o viam, franziam a testa porque a cicatriz que ele tinha era muito feia. Então a turma se reuniu com o professor e foi sugerido que aquele menino da cicatriz não frequentasse mais a escola. O professor levou o caso à diretoria da escola, que ouviu atentamente a situação e chegaram a seguinte conclusão.
"Que não poderiam tirar o menino da escola, mas que conversariam com ele para que fosse o último a sair da sala de aula e o primeiro a entrar, desta forma nenhum aluno veria o rosto do menino a não ser que olhassem para trás." O professor achou magnífica a ideia da diretoria, sabia que os alunos não olhariam mais para trás.
Levado ao conhecimento do menino a decisão, ele prontamente aceitou a imposição da escola, com uma condição: Que ele compareceria na frente dos alunos na sala de aula, para dizer o por quê daquela CICATRIZ em seu rosto.
A turma concordou e no dia marcado o menino entrou, dirigiu-se à frente da sala de aula e começou a relatar:
- "Sabe turma, entendo vocês, na realidade esta cicatriz é muito feia, mas gostaria que vocês soubessem como foi que a adquiri: Minha mãe é muito pobre e para ajudar na alimentação de casa, ela passa roupas para fora, na ocasião eu tinha por volta de 7 a 8 anos de idade, além de mim, haviam mais 3 irmãozinhos, um de 4 anos, outro de 2 anos e uma irmãzinha com apenas alguns dias de vida, nossa casa era muito simples, feita de madeira, foi então que não sei como nossa casa começou a pegar fogo, minha mãe correu até o quarto em que estávamos, pegou meu irmãozinho de 2 anos no colo, eu e meu outro irmão pelas mãos e nos levou para fora. Havia muita fumaça, as paredes que eram de madeira pegavam fogo rapidamente e estava muito quente.
Minha mãe colocou-me sentado no chão do lado de fora e disse para ficar com meus irmãos até ela voltar, pois tinha que pegar minha irmãzinha que continuava lá dentro da casa em chamas.
Só que quando minha mãe tentou entrar na casa em chamas as pessoas que estavam ali não deixaram. E eu via minha mãe gritar: "Minha filhinha está lá dentro!"
Vi no rosto dela o desespero, o horror e ela gritava, mas aquelas pessoas não deixaram minha mãe buscar minha irmãzinha. Foi aí que decidi, peguei meu irmão de 2 anos que estava em meu colo e o coloquei no colo do meu irmãozinho de 4 anos e disse que não saísse dali até eu voltar. Saí por entre as pessoas sem ser notado e quando perceberam já tinha entrado na casa.
Havia muita fumaça, estava muito quente, mas tinha que pegar minha irmãzinha, sabia o quarto em que ela estava, quando cheguei lá ela estava enrolada em um cobertor e chorava muito, neste momento vi cair alguma coisa, então me joguei em cima dela para protegê-la, e aquela coisa quente encostou em meu rosto."
A turma estava quieta e atenta, porém um tanto quanto envergonhada. O menino continuou: - "Vocês podem achar esta CICATRIZ feia, mas tem alguém lá em casa que acha linda e todo dia quando chego, a minha irmãzinha, me beija e me abraça, porque ela sabe que a CICATRIZ que tenho, é marca do meu AMOR por ela."
Vários alunos começaram à chorar, sem saber o que dizer ou fazer, mas, o menino foi para o fundo da classe e quietamente sentou-se em sua cadeira.

®Jorge Bessa Simões
(Baseado em Texto de Autoria Desconhecida)

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