Recordo-me com saudades dos campos que um dia por lá deixei, era linda minha terra d'alma do meu coração com suas cachoeiras que desciam como véus de noivas enfeitadas para o casamento, era aqui ou ali, onde por vezes me sentei para chorar no fim do dia, não de tristeza, mas de alegria sabendo que era nesses lugares os muitos momentos felizes que vivia.
Recordo-me das ribanceiras do rio onde me banhava ao final do dia e cansado das minhas peripécias me deitava na relva verde, quantos sonhos tive debaixo do manto noturno e estrelado em lindas noites enluaradas, dessa terra via os atalhos recortados pelos trilhos daquela velha Maria Fumaça que passava pelas várzeas e campinas, e que, se esvaem nas areias do tempo.
Recordo-me com saudades dos amores vividos e dos beijos que trocamos deitados na relva de um bosque bem pertinho de casa, onde se ouvia a sinfonia noturna com as mais belas notas musicais tocadas sob a luz prateada de uma linda lua azul, me lembro dos meus dias puros de alegrias mil nessa imensa terra e nada me faz a esquecer, e me esquecer do que? E de quem haveria de ser?
Cada pedra que toco, cada tronco de árvore ou flor, tudo fala-me daquela doce idade, me lembro da casa de meus pais em noites iluminadas por luzes frementes de um lampião, da sala aquecidas pelas histórias que me contavam, especialmente minha mãe, quantas saudades do quarto onde morava com suas janelas que brilhavam a cada amanhecer, hoje, só me restam as saudades.
Como gostaria de poder voltar no tempo e penetrar na alegria dos meus pensamentos e reviver tudo aquilo dessa terra e dos lugares onde um dia vivi.
®Jorge Bessa Simões
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