sexta-feira, 29 de março de 2024

*"Antes de me julgar, me responda umas coisas" (Poema)

Quando nasci naquela madrugada de abril, você estava lá para me amparar, cuidar de mim, dar meu primeiro banho, me proteger do frio ou alimentar minha fome? Não!

Ao dar meus primeiros passos, cai e precisei de alguém para me levantar, por acaso, você estava lá com suas mãos estendidas para me erguer do chão? Não!

Ao balbuciar minhas primeiras palavras, foi você quem me ensinou os significados delas? Não!

Quando na escola, apanhei por causa de um pedaço de lanche, por acaso, você me socorreu e me ajudou com minhas matérias escolares? Não!

Por problemas de família quando minha mãe, eu e fomos obrigados a sair para rua e dormir ao relento, por acaso, você abriu suas portas pra nos acudir e nos amparar? Não!

Quando fui violentado, espancado, e jogado como morto numa linha do trem, por acaso, você foi lá tentar me proteger das garras daqueles que me fizeram isso ou me prestar socorro, limpando minhas feridas e me ajudando emocionalmente? Não!

Depois de tudo que me aconteceu, quando tive medo e vergonha de voltar para casa, acabei indo dormir embaixo dos viadutos ou marquises de prédios, pedi esmolas para me alimentar e me sujeitei a certas situações impostas por pessoas inescrupulosas para não passar fome, por acaso, você me deu um pedaço de pão ou me deu uma refeição sem tirar proveito de mim pela situação que eu passava na rua? Não!

Passei frio perambulando pelas ruas e esquinas da vida quase sem roupas, e as poucas que possuía estavam rasgadas, por acaso, você me vestiu ou me deu um cobertor para me cobrir? Não!

Quando sozinho chorava e pedia para que tudo pudesse ser diferente na minha vida para reencontrar um novo rumo, por acaso, alguma vez você me estendeu as mãos e me mostrou um outro caminho para que eu pudesse trilhar? Não!

Ao me tornar adolescente, tive minhas primeiras desilusões e acabei quebrando a cara com as coisas que a vida me impunha, tive que aprender que nem tudo aquilo com que sonhava se tornaria realidade, por acaso, foi você quem me ensinou como deveria superar minhas decepções ou enxugou minhas lágrimas e me indicou uma saída para tudo isso? Não!

Quando tive alguém com quem pretendia ter uma família e a morte tirou-a dos meus braços numa noite de abril, por acaso, você me deu o apoio que eu precisava naquele momento para superar minhas dores diante daquela perda? Não!

Anos mais tarde conheci uma outra pessoa e com ela me casei, ao passarmos por certas dificuldades quando meus filhos vieram, por acaso, foi você quem nos ajudou? Não!

Perdi muitos que amei, em especial minha mãe, por acaso, foi você que veio me dizer algumas palavras de esperança e consolo, orou comigo para me confortar pela pior perda da minha vida? Não!

Ao ficar mais velho por causa dos anos que me pesam, e tendo que enfrentar situações mais difíceis, por acaso, você se dispôs a me ajudar para minimizar minhas necessidades e as dores que sinto? Não!

Então, me explique uma coisa, "quando" e "se", em nenhum momento difícil da minha vida em que mais precisei, você não estava lá, e agora não pretende me apoiar no meu tempo final, com que direito quer se intrometer na minha vida e me julgar?

Se você não fez parte da minha vida, da minha historia, você com certeza irá se distanciar ainda mais de mim, então por favor, aceite uma sugestão:- "Continue a cuidar da sua vida e deixa a minha em paz!" Sem ressentimentos...

®Jorge Bessa Simões

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*Foto Arquivo Google Imagens.
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