terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

*"Meus diários memoriais 1" (Poema)

Numa noite qualquer havia acabado de chegar em casa depois de um dia exaustivo e estressante de trabalho, tomei meu banho, coloquei meu calção de dormir, belisquei algo na cozinha e fui para o quarto, me jogo na cama como quem corre em direção a um esperado abraço, pego meu diário em capa de couro preta que sempre fica na mesa de cabeceira acompanhado de uma caneta, aguardando o momento em que chegaria para lhe contar como havia sido o meu dia na esperança de que algo bom e novo tivesse me acontecido, mas sempre me decepcionava.
Mas é o lugar onde deposito meus desabafos diários, acreditando que assim, possa esvaziar um pouco o meu peito para aguentar o dia seguinte, suas páginas quase sempre são preenchidas com dores, sofrimentos, raivas e frustrações, porém, ao pegá-lo para realizar o meu rotineiro hábito noturno, resolvi ler as páginas anteriores, coisa que nunca fiz por saber que reviver tudo aquilo, alteraria o propósito de me sentir livre daquele peso angustiante.
E ao folhear o diário, acabo caindo no choro ao perceber como a vida tem me virado às costas e como tenho tido uma vida infeliz muitas vezes, até aqui. De repente me pego sem entender pra que eternizar tudo isto, afinal, pra que lembrar das coisas ruins que me acontecem? Pra que criar meios de reviver tanta dor? Ficar mais forte? Aprender com os erros?
Talvez seja só desculpas, me parece masoquismo, não é assim que quero me lembrar da vida, mas e se um dia estes diários forem as únicas fontes de lembranças da minha vida quando a velhice chegar ou alguma doença crônica me atingir? Definitivamente não é como um idoso frustrado e amargurado que pretendo terminar os meus dias em meus diários memoriais.

®Jorge Bessa Simões

®Velhas Memórias Poéticas. Copyright © 2013-2024
®Direitos Autorais Reservados. Lei 9.610/98

*Foto Arquivo Google Imagens.
©Todos os direitos reservados/2024
 

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