segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

*"O menino que ousou sonhar 1" (Poema)

Quando era criança me perguntaram:" Qual é o seu sonho?" Com aquele jeito típico de menino respondi: "É voar até a Terra do Nunca." Respondia assim por que me lembrava da história do Peter Pan, um menino que queria ser criança para sempre e morar num lugar feito de sonhos.
Sonhava em morar lá, sabia que era preciso três coisas para chegar naquele lugar; primeiro; pensar numa coisa boa, segundo; acreditar no fundo do coração e é claro, só ai viria a terceira realização; voar!
Puxa vida, me lembro de quantas vezes subi na beliche do quarto, pensando em algo bom, e depois com os olhos fechados saltava no ar e..., tombo, ralava os joelhos, as mãos e dependendo da forma como caia, ficava com os braços e as pernas roxas.
Quando lia as histórias do Peter Pan pensava no que me fazia bem, acreditava nos meus sonhos e como gostaria de saltar dos lugares mais altos do mundo na esperança de voar para a Terra do Nunca.
Lembro-me que um dia cansei de pular da beliche e até de cima do muro no quintal, porque me machucava mais do que voava, cansei de pensar em coisas que nunca aconteceriam e assim deixei de acreditar em sonhos, compreendi que simplesmente não iria voar mesmo, e para piorar, fui levado a desistir de sonhar.
Tudo porque tive a minha infância roubada e violentada, e aquilo doeu em mim mais do que todos os tombos que já havia sofrido, doeu-me no coração e na alma.
Anos mais tarde, algo me fez relembrar de quando lia as histórias do Peter Pan, foi como se voltasse a acreditar que meus sonhos poderiam ser possíveis, por alguns instantes, me senti como aquela criança que não tinha medo de se lançar para descobrir a vida, foi como se a Terra do Nunca ainda pudesse estar ao meu alcance.
Me lembrei da criança que fui, que não tinha medo, que sonhava em voar mesmo sabendo das quedas e que poderia tentar de novo apesar das feridas e cicatrizes que carregava, não me importava com o que os outros pensasse ou falassem a respeito dos meus sonhos, afinal, acreditava que ainda poderia ser aquele mesmo menino que um dia ousou sonhar.

®Jorge Bessa Simões

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*Foto Arquivo Google Imagens.
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