domingo, 2 de junho de 2024

*"Mulher madura" (Poema)

Depois dos sessenta, você não aguenta mais restrições.
Não aguenta o sutiã muito apertado, jantares forçados com a cunhada que verifica a poeira nos seus móveis, saltos muito altos e sorrisos forçados.
Depois dos sessenta você não precisa provar mais nada, você é o que é, as coisas que fez e as coisas que ainda pretende fazer.
Aos sessenta não importa se você teve ou não filhos. Você ainda será uma mãe para a sua mãe, seu pai, uma tia solitária, seu cachorro ou um gato que você pegou na rua, e se tudo isso não estiver lá, você será uma mãe de si mesma.
Com o passar dos anos você aprendeu a cuidar de um corpo que finalmente aprendeu a amar, em ele se tornar cada vez mais imperfeito somente aos olhos dos outros.
Quem se importa se metade das suas roupas tem o tamanho errado? O importante é que suas costas não rangem muito quando você se levanta, que ao tocar no peito você não sente nódulos e que a menstruação finalmente vira um problema para os outros.
Depois dos sessenta você deseja liberdade, ser livre para dizer não, para ficar de pijama o domingo todo, livre para se sentir linda para si e não para os outros.
Liberdade de caminhar sozinha, você estará livre para cantar com toda a sua garganta no carro, mesmo que olhem mal para você nos semáforos, você não terá mais registros de aula para verificar ou bate-papos de gente chata para suportar, você terá sonhos como se tivesse vinte e pedirá a Deus tempo para os realizar.
E agora, agora mesmo que comeste metade da tua vida em grandes mordidas e com pressa, vais encontrar a vontade de saborear lentamente todo o açúcar e sal dos dias que te esperam.

®Irene Renei

®Velhas Memórias Poéticas. Copyright © 2013-2024
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*Foto Arquivo Google Imagens.
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