domingo, 19 de maio de 2024

*"A lua solitária tanto quanto eu" (Poema)

Quantas vezes meu pai chegava em casa brutalizado pela bebida como quem não cabia em si, e eu saía para a rua pois sabia que ele descontaria suas frustações do passado em mim, na verdade eu descia até a ribanceira de um rio que passava próximo de casa há época, lá procurava um cantinho e ficava escondido até o anoitecer, era quando eu observava a lua no céu tão aflita quanto eu, ficava ali por horas conversando com ela, muitas vezes fiz isso até o amanhecer.
Outras vezes subia no telhado de casa me sentindo triste sentado ao lado da úmida caixa d'água, até que um dos meus irmãos viesse me procurar, era quando ele se aproximava e com afagos nos meus cabelos, me dizia para descer pois a mãe estava chegando e logo iria preparar nosso jantar, ao mesmo tempo, eu tinha certeza de que estava seguro lá em cima ou sentado na ribanceira do rio no outro lado da rua, eu ria ridiculamente olhando para a lua solitária que surgia ao anoitecer, era como se esperasse que as estrelas a encontrassem.
Passou o tempo e hoje me pergunto como deve estar aquela casa? Vazia? E aquele espaço ao lado da caixa d'água úmida, será que continua transbordando como no passado?. E eu, onde estou mesmo, aqui ou lá? E meus irmãos que agora nem me procuram na vida, que dirá na beira do rio que creio eu, não mais existe.
Uma coisa tenho a plena convicção, aquela lua noturna sempre me acompanhou durante minha vida toda, e assim como eu, por alguns momentos ela sempre se torna a mesma lua solitária ao anoitecer ou no amanhecer.

®Jorge Bessa Simões

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*Foto Arquivo Google Imagens.
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