Gostaria de me livrar das palavras ásperas que machucam as pessoas a minha volta, até porque o mais ferido sempre sou eu mesmo, me livrar da saudade e da solidão, do apego das coisas que se dissipam facilmente e de perder tempo com o que já foi perdido e que me privam da beleza de tecer meus sonhos incertos.
Gostaria de me livrar dos carinhos econômicos por medo de me entregar aos sentimentos verdadeiros, de me machucar e ser machucado, já me bastam as cicatrizes que carrego, me livrar da falta de coragem, falta do toque, do carinho e dos beijos, (ainda que fossem só selinhos), falta de uma abraço mais prolongado, falta de amizade, falta de fé e do amor.
Gostaria de me libertar, de usar as hipóteses do desaforo, de ser normal e viver o óbvio, deixar de ser engaiolado pelas convicções que os outros insistem em me impor como regra de vida, aliás, me libertar dos hipócritas que só sabem me acusar e julgar pois acreditam que são os donos da verdade absoluta ou por que acham que conhecem a história da minha vida.
Que eu renasça com a sensação de que sou um poeta, ainda que seja só um aprendiz sonhador, mas que tem a coragem de expor o que sinto em palavras diferente de outros que se escondem com medo de si mesmos.
Creio que por tudo isso me sinto majestosamente vivo, sem precisar me preocupar em explicar as razões do que sinto, digo ou escrevo, ainda que eu esteja conversando comigo mesmo.
®Jorge Bessa Simões
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